(PS4) Night in the Woods – Review

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Eu comprei meu PlayStation 4 no final de 2018, já depois de alguns anos de sua vida útil, então era relativamente fácil encontrar boas sugestões de jogos para conhecer na plataforma. Dentre os primeiros que eu vi estavam “What remains of Edith Finch” e “Night in the Woods”. A discussão sobre jogos como elementos de storytelling é bastante antiga, e enquanto que antigamente ela se limitava aos RPGs (e olhe lá) ou a pequenos momentos de narrativa durante o jogo, hoje em dia é viável produzir jogos inteiros onde a narrativa é o único elemento de gameplay. Milagres da tecnologia e fim das restrições de espaço nos jogos. Yey?

Isso não é de todo ruim, já que somado com a facilitação da distribuição digital de jogos e a criação de pequenos estúdios de desenvolvimento, passamos a poder experimentar jogos que seriam comercialmente inviáveis antigamente.

Essa é a proposta de Night in the Woods. Lançado através de um financiamento coletivo do Kickstarter (link aqui) em 2013, o jogo foi lançado em 2017 para basicamente todas as plataformas existentes dessa geração.

A estética escolhida para o jogo é interessante: o mundo é habitado por animais antropomórficos, e os cenários são compostos de uma mistura de 2D com 3D, como se fossem várias camadas 2D sobrepostas. Mais sobre os gráficos adiante.

Night in the Woods on Steam

No jogo você controla Mae, uma gatinha levemente perturbada que decide abandonar a faculdade e voltar para a casa de seus pais no interior. Tendo voltado para o buraco de onde tentou fugir quando era mais nova (sendo essa uma realidade muito fácil de ser compreendida por qualquer jovem que decidiu fazer uma faculdade longe de casa), cabe ao jogador se esforçar para se encaixar novamente naquele espaço: saia com seus amigos, veja seus sofrimentos, entenda suas dificuldades e descubra os motivos atrás da fuga de Mae da faculdade. Quem sabe você será capaz de ajudá-la a descobrir como fazer uma limonada a partir desses limões.

HONESTAMENTE pareceu uma boa premissa, de verdade. Adicione os visuais adoráveis ​​e bem executados do jogo e eu fiquei imediatamente interessado (não ajudou muito o fato de que quase todo review do jogo elogiava ele furiosamente).

É importante comentar que eu tinha sim algumas coisas a ver com Mae: eu morei durante muitos anos com meus pais e tive que voltar a morar eles em um determinado ponto da vida. Eu não cogitei desistir da faculdade, mas odiei-a com todas as forças possíveis (meu maior sonho era fazer História, mas nunca tive como realizá-lo). Tava na cara que eu ia me dar bem com Mae, certo? Errado.

Pra começo de conversa, é essencial pensar que Night in the Woods é um jogo baseado em histórias, e como tal haveria um esforço no sentido de transformar seus personagens principais em personagens minimamente agradáveis, ou, pelo menos, que a história fosse interessante de se acompanhar. Personagens interessantes, ambientações bem estruturadas, desenvolvimento de personagens… Tudo isso devia ser essencial na hora de escrever uma história dessas. Mae, por outro lado, é tão insuportável que torna toda a experiência arrastada e inconveniente. Ela consegue ser a maior antagonista de si mesma, em um jogo que trata de depressão, isso poderia ter sido muito bem trabalhado, mas não foi. Não existe desenvolvimento para Mae. Ela passa dias e mais dias vagabundeando pela cidade (enquanto seus amigos e seus pais trabalham), escalando prédios, descobrindo pequenos segredos e conversando com pessoas que muitas vezes não trazem nada de novo para a história e são completamente ignoráveis. Mae toma decisões ruins, se desentende com as pessoas, frustra todos ao seu redor… E não aprende absolutamente nada com tudo isso. A Mae do começo do jogo é a mesma do final.

A maior parte das interações que ocorrem sem o menor sentido. Tem um personagem que fica na frente da casa dele reclamando que você está ocupando sua varanda. Dois personagens conversam entre si todos os dias e fingem que você não existe. E um personagem declama poesia todo dia no mesmo lugar. Não que esses NPCs não tenham histórias que poderiam ser interessantes, mas alguns parece que estão lá somente para ocupar espaço de tela. Fica uma sensação de que faltou criatividade.

Para não falar que só estou criticando, tenho que dizer que gostei da exploração no jogo. No decorrer dos dias você pode tentar alcançar lugares diferentes da cidade, encontrar pessoas diferentes, itens que contam a história de Possum Springs e por aí vai. Funcionam bem como easter eggs, e geralmente funcionam bem para mostrar que se trata de uma cidadezinha com história e vida. Pena que só fica nisso. A história só começa a se desenrolar nos últimos instantes do jogo e não bate com o que está acontecendo até aquele momento: as pessoas que desaparecem em Possum Springs (um mistério que é deixado beeeeeeeeem no ar) na verdade são vítimas de um culto maligno que sequestra pessoas para sacrificá-las para uma entidade alienígena bizarra (?). Mae justifica que suas ansiedades emocionais são porque ela sofre de desrealização (?).

Para quebrar o ritmo do jogo, eventualmente você é forçado a participar de um minigame para mostrar as interações de Mae com seus amigos e o mundo ao seu redor, como tocar música, quebrar lâmpadas, etc e tal, mas todos eles são lentos, repetitivos, chatos e cansativos. O jogo de música, por exemplo, é uma cópia mal feita e mal calibrada de Guitar Hero. Eu não gosto desse tipo de jogo, porque eu sou obrigado a experimentar esse tipo de coisa para jogar um jogo completamente diferente?

Não tenho como recomendar essa bagunça. Os personagens não agem de acordo com nenhuma lógica, a história é sem pé e sem cabeça, e os únicos pontos positivos são a premissa e a direção de arte. Sem dúvida foi uma das piores experiências que já tive com videogames.

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